Debate – Clonagem Humana
Um produto final de um DAC da turma 11ºB
Este debate, subordinado ao tema «clonagem humana», foi um trabalho interdisciplinar, levado a cabo pelos alunos da turma do 11º B, com a intervenção das disciplinas de Português, EMRC, Filosofia e Biologia e Geologia.
Os alunos, durante algumas aulas das mencionadas disciplinas, trabalharam a temática clonagem humana, procurando, cada um deles, argumentos, problemas ou questões (a favor ou contra) relativas ao papel que cada um iria desempenhar num debate a decorrer na escola.
O debate era o produto final do DAC e, desde a sua concepção, investigação, interação, apresentação e concretização, a Escola só pode sentir orgulho com o trabalho destes alunos e pode ainda ter esperança no futuro com gente que, quando unida num projeto, mostra-se responsável, empenhada e de energia contagiante. O desempenho destes alunos no debate merece toda a nossa admiração e o nosso aplauso.
Deste debate, partilha-se com a comunidade escolar o texto elaborado por dois alunos Beatriz Rodrigues e Santiago Rodrigues que assumiram a função de relatores.
Debate – Prós e Contras da Clonagem Humana
Beatriz Rodrigues e Santiago Rodrigues
«Dado o término do debate, da contestação de ideias, são visíveis os limites onde divergem as opiniões relativamente à clonagem, tópico polémico e atual sobre o qual incidiu esta discussão enriquecedora, que cada vez se torna mais necessária e relevante.
Tivemos a oportunidade de ouvir uma disputa entre profissionais provenientes de diferentes áreas de especialização que constituíram a nossa mesa, desde a área de investigação científica, médicos e biólogos, tanto a favor como contra, a uma jornalista, uma filósofa, um jurista, e mesmo um sacerdote, que nos viera a esclarecer também quanto à perspectiva da Igreja Católica perante a eventual inevitabilidade que enfrentamos, a clonagem.
Vale a pena salientar que se testemunhou, no decorrer da discussão, a manifestação de um público igualmente participativo e interveniente, que detinha também uma opinião a dar, o que meramente tornou a discussão ainda mais enriquecedora. A sua intervenção levou-nos a alargar os nossos horizontes e a considerar adicionalmente uma variedade de pontos de vista, fomentados por crenças individuais, vivências e circunstâncias atuais que particularizam cada um, especialmente pois, como viemos a saber, parte do nosso público poderia, relutantemente ou não, beneficiar de forma direta das potencialidades da clonagem.
Em retrospectiva, primeiramente, obtivemos um esclarecimento por parte dos qualificados no ramo da biologia, que exploraram os procedimentos, as diferentes técnicas e que eventualmente assumiram também uma posição.
De seguida, sucedeu-se o levantamento de questões e começaram as alegações.
Agora, passamos a delinear ordenadamente tanto as potencialidades e os benefícios que estas técnicas poderiam fazer emergir, ao evocar os argumentos apontados pelos intervenientes a favor, quanto os malefícios e os inconvenientes, sublinhados em oposição, ao relembrar os argumentos defendidos pela facção contra a concepção da clonagem como um processo reprodutivo alternativo e/ou como recurso no contexto terapêutico:
Desta forma, e cronologicamente, do painel a favor, há a sublinhar:
- O biólogo José começou por referir que a vertente terapêutica da clonagem pode ajudar no tratamento de doenças como Parkinson e Leucemia (que poderia vir a resolver o caso da família de Rita, que viemos a conhecer) e que pode vir a mitigar o tráfego de órgãos humanos e, consequentemente, a corrupção.
- O biólogo Nadeem refere que a clonagem permitiria preservar espécies em vias de extinção e restaurar órgãos / tecidos defeituosos num organismo, acrescentando às aplicabilidades da clonagem no domínio do tratamento de doenças.
- A médica Beatriz vê também inúmeras vantagens na clonagem; segundo ela:
- A clonagem poderia ser uma alternativa viável à fertilização in vitro, com mais taxas de sucesso;
- Permitirá casais, cujos membros apresentem doenças hereditárias, obter descendência saudável;
- Permitiria às pessoas ter embriões de reserva, que mais tarde poderiam ser utilizados para a síntese de órgãos para transplante sem riscos de incompatibilidade para a pessoa (em casos em que a pessoa é destituída de doenças hereditárias / mutações). Isto seria vantajoso para Dinis, cujo cenário viemos a conhecer, mais tarde, que também veio a fundamentar este ponto.
Mencionou também o aspeto tráfico de órgãos, já anteriormente mencionado pelo biólogo José.
No que toca aos sacrifícios de embriões, a mesma médica considera que a clonagem destruiria embriões mas não mais que a fertilização in vitro, que já é permitida, não devendo essa ideia ser um impeditivo para a possível implementação da alternativa reprodutiva.
Defende que a ideia de instrumentalização de embriões não deve ser em si uma limitação, pois no quotidiano, inconscientemente usamo-nos uns aos outros como recurso para atingir uma dada finalidade.
- A jornalista Margarida refere que a clonagem só deve ser feita com segurança, como seria óbvio, não devendo a ideia de segurança ser um problema, pois a clonagem só deve estritamente ser posta em prática quando as medidas de segurança forem garantidas.
Relativamente à problemática da falta de individualidade, afirma que esta está presente também no caso dos pais que detêm expectativas para com os filhos, os quais ficam condicionados à nascença e, no caso dos gémeos idênticos que detêm eles também mentalidades distintas entre si.
Relativamente à adoção como alternativa ao processo de clonagem, reforça que defende o livre arbítrio e o direito de se ter filhos que são geneticamente relacionados com o progenitor e, portanto, refere a importância da existência de um leque de alternativas para a reprodução humana.
Perante os possíveis direitos dos clones, afirma que, independentemente da sua origem, cada um tem a sua essência que lhe é característica e, no contexto de relações familiares e sociais possivelmente atípicas, afirma que os gémeos idênticos, que existem em grande quantidade na atualidade, já encaram este problema e, como tal, este argumento não poderia ser utilizado para obstruir o caminho da investigação na área da clonagem.
A clonagem permitiria solucionar o caso de Afonso e João, membros do público e pais cujo cenário viemos a conhecer, ao restaurar o equilíbrio emocional de famílias como a dele, ao permitir produzir uma cópia geneticamente idêntica ao ente querido que estes haviam perdido. Mas como ouvimos, esta alternativa tem as suas repercussões.
Permitiria igualmente solucionar o caso de Rodrigo, também ele membro do público, que veio a descobrir que era estéril e daí a sua incapacidade de originar a descendência que o mesmo tanto desejara.
A jornalista Margarida, clarifica, ainda, que a clonagem deve ser vista como uma potencial alternativa, algo complementar à metodologia comum, e não uma obrigação, podendo a noção de ter um leque de métodos de reprodução ser algo benéfico.
Volta a argumentar que os progressos no processo de indagação do conhecimento sempre dependeram de tentativas e, portanto, investimento, sacrifícios, e que a clonagem não deve ser uma exceção, indo ao encontro da ideia da médica Beatriz quanto à problemática dos custos.
- O biólogo José intervém na questão e culpabiliza a legislação e a ética, pela falta de progressos na área, que, como defende avidamente, já pudera estar numa fase consideravelmente mais avançada, não fossem os proibitivos e as restrições impostas por estas forças, tão significativas. Os restantes intervenientes especializados na área de investigação científica, põem-se do lado do biólogo, e suportam esta última crítica com uma convicção aparentemente inabalável até ao desfecho do debate, tornando-se clara a determinação dos cientistas.
Considerando o outro polo, como era previsível, fomos ao encontro da ubíqua dimensão ética, jurídica, religiosa e dos aspectos sociológicos subentendidos.
Destaca-se, da oposição, os argumentos:
- O biólogo Afonso opõe-se à clonagem , refuta em prol dos sacrifícios e das tentativas excessivas de obter sucesso nesta área de pesquisa e caracteriza-os como desnecessários e por diversas vezes inúteis. Reflete e questiona os intervenientes relativamente a questões morais ainda sem resposta.
- A filósofa Diana apela à problemática alusiva à condenação da Identidade e o respeito pela Individualidade dos cidadãos cuja singularidade, ao serem clonados, permaneceria indefinida. Coloca também em causa as repercussões que pode vir a suscitar perante situações familiares também remetentes à identidade.
Não aceita as atitudes de cientistas no que consta aos custos elevados que estes precisam para avançar com as suas experiências.
- O padre Diogo menciona valores religiosos e defende que a criação, fenómeno de caráter sagrado , cabe só e somente a Deus , visto que a vida humana é um dom. Após ser confrontado com a contestação da ideia de Deus ser criador da vida quando nos deparamos, atualmente, com a possibilidade de criar vida artificial, este reconhece as técnicas envolvidas e discorda que seja merecedora sequer de ser considerada vida sendo simultaneamente artificial. Menciona a perspetiva sobre a procriação através dos olhos da Igreja, que se encontra enraizada na crença de que o nascimento da alma é dado na concepção, e ao ser simplesmente uma cópia gerada em laboratório, esta não tem pai nem mãe.
- O jurista Gonçalo apresenta uma síntese sobre a posição tomada pela legislação Portuguesa consoante a perseverante divergência de opiniões no que toca à complexidade da Clonagem.
Conclusão
É inegável que o debate foi bem-sucedido, na medida em que promoveu a discussão acerca da clonagem humana. No entanto, apesar da extensa conferência, das numerosas alegações e argumentos, e ainda que uns apresentem mais coerência lógica relativamente a outros, o debate é, à semelhança de muitos outros que abrangem a temática, infrutífero, na medida em que os elementos pró-clonagem e anti-clonagem permanecem inflexíveis e apegados às suas posições.
Concluímos que não há sequer um fator conciliador, não tendo sido possível chegar a um consenso. Encontra-se uma incompatibilidade de ideias enraizada mesmo no que toca à ideia de embrião, em que pessoas têm noções diferentes do que consideram ser um embrião, por exemplo, o que dificulta a tarefa de atribuir estatuto moral ao mesmo e de definir que um ser humano possa estar ou não a ser instrumentalizado.
Presume-se que o desentendimento se deve ao facto de que cada um ser de tal forma moldado por crenças vigorosas, influenciado por vivências marcantes e vinculado ao seu cenário atual que se torna difícil aderir a outros modos de pensamento.
Contámos mesmo com a presença de dois senhores, membros do público e pais, que partilham a mágoa de terem ambos perdido um filho, mas que mesmo perante o cenário indesejável e comum em que os mesmos se encontram, e com a relutância conciliante que albergam para com a ideia de deixar os filhos, ambos fitam a novidade da biotecnologia com olhares e esperanças diferentes.
Interpretamos também que os benefícios da clonagem reprodutiva englobam essencialmente um grupo minoritário, em circunstâncias específicas e seus interesses pessoais: indivíduos estéreis, casais que tenham perdido um filho, ou simplesmente indivíduos egocêntricos com intenções de, ilusoriamente, se prolongar no tempo ou de dar seguimento a um projeto maníaco nos quais recorrem aos clones como artifício. Enquanto isso, a clonagem terapêutica permitiria beneficiar a sociedade de uma forma mais abrangente, ao possibilitar a investigação, o tratamento de determinadas doenças, produção de órgãos para transplante sem riscos de incompatibilidade.
Concluindo, consideramos que a conferência permitiu sublinhar a urgência da reflexão relativamente à clonagem humana e ajudou a delinear os antagonismos face ao tema.
Não se conhece, até ao momento, nenhum relato fidedigno de qualquer tentativa ou resultado de desenvolvimento ou nascimento de um clone humano. Porém, a tecnologia da clonagem de mamíferos, embora longe de ser confiável, chegou a um patamar no qual são muitos os cientistas que conhecem as técnicas envolvidas, e sendo a literatura acessível, a legislação não sendo possivelmente um fator impeditivo para cientistas, e a aplicação das técnicas não tão difíceis e caras quanto eram no passado, cremos que as tentativas de clonagem reprodutiva humana serão realizadas num futuro mais próximo do que antecipamos.
Vivemos numa época marcada pelos ininterruptos avanços tecnológicos e pelos progressos incessantes ao nível do conhecimento científico e hoje reunimo-nos para antecipar uma reflexão ofuscante desta mesma evolução.
Resta ao ser humano continuar a progredir e a ampliar o seu conhecimento. Contudo, se assim for, que o consiga fazer sem nunca se distanciar de uma ética de responsabilidade e priorizando sempre permanecer fixo aos seus alicerces morais e aos direitos humanos por ele próprio definidos.